quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Hoje eu estou muito parecida com esse senhorzinho carrancudo. Cara fechada, guarda-chuvas aberto, astral de poucos amigos. O telefone, no entanto, insiste em tocar. E eu, apesar de toda barbaridade, resolvo atender. A chuva que cai sobre mim, é água. Mas o telefonema me traz uma chuva de corações coloridos, amorosos, delicados, insistentes, e n l o q u e c e d o r e s , sedutores como uma onda quente numa praia deserta à luz da lua. Cheia. Nova. Crescente. Ai, Jesus!... afasta de mim esse cálice. Eu não sei lidar com isso, eu não sei não sucumbir à esse ser que só faz me confundir com sua sinfonia de iô-iôs. Eu não sei como fazer para ficar imune à essa tentação em forma de olhos intensamente castanhos, mas de brilho sádico. Serão muitos convites. Serão muitas as recusas. Eu perguntei: _ meu medo te surpreeende? Falamos três línguas diferentes simultaneamente. A da verdade, a da mentira, e uma desconhecida língua medieval codificada que nenhum de nós dois consegue entender, decifrar, escapar. Atravessa por nossos meridianos corporais uma onda de desejo, que sucumbe a uma sedução maior, o medo e a raiva, assim, misturados, nos conduzindo a essa dança cabalística que faz nossas respirações soluçar. Como pode-se amar e odiar alguém ao mesmo tempo? Quando nos falamos, é como se houvesse de fato uma saraivada de laços a nos atar irremediavelmente dentro de um feitiço. Entramos no nosso transe e hipnotizados, como os olhos arregalados, cantamos ao pé do ouvido nossas mais sedutoras palavras. Estamos dentro de um encanto. A mim cabe o medo. A ela, palavras. E ao destino, o milagre de encontrar uma forma de transformar isso tudo em AMOR.
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