quinta-feira, 2 de junho de 2016

- TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA

Até que um dia você se nota. E você perdoa toda a podridão vestida, sentida, ferida, todas as milhares de flechas que abriram um caminho até você, que descobre que existe sim, UM VOCÊ. Uma novidade. Uma sensação inusitada de experimentar um ser próprio. Um algo inédito de prazer. Inóspita, desconhecida, linda figura que se pode amar, sem medo de errar.
 
QUANDO VOCÊ PODE AMAR, E AMAR E AMAR E SE DERRAMAR E SE LAMBUZAR E SE ESPARRAMAR E AINDA HAVER UM MAR QUE TE DIZ SIM, SIM, UMA GALÁXIA INTEIRA DE AMOR POR ESSA CRIATURA QUE ME HABITA.
 
[não é vaidade. é RESTAURO. É reencontro. É aceitação. é a firmeza de um chão que te recebe, e te esperava, e te aguardava]
 
 
Todas as voltas que meu mundo deu me trouxeram até mim. Tateio com suavidade, controlo meu exagero no que seja amar, ou descontrolo, esta é enfim a hora de extrapolar, e mimar, e chamar pra ninar, e acarinhar sem medo de ser excessiva, enfim, não haverá fuga, não haverá rejeição, nem frustração, nem um NÃO, aos carinhos, à proximidade, nenhuma queixa será feita à falta de liberdade porque enfim o cativeiro liberta, sem saber, mas sentindo,
eu era a minha saída.

Ser meu pão.
Ser minha comida.


-

Então o outono vai se ajeitando na gente. Ou a gente vai se acomodando no outono da vida. Ameno tempo. De silêncio e manhãs geladas. A gente só aprende mesmo é com a idade. Que a ordem das coisas não é proporcional às vontades. A vontade é própria. Resta é o se ajeitar. Ao frio. À fome. À saudade. Às pequenas grandes rejeições, frustrações, com mimos de toda espécie de delicadeza que nos faça seguir ao sabor desta força que sopra e comanda, e só avança.

Avançar. Abraçar o que há. Há de ser o que de melhor houver. E se não for bem daquele jeito, arranja-se um jeito de se, novamente, se ajeitar. Se aninhar nas sensações. Pro frio, o agasalhar. Pra fome, o alimentar. Pra saudade, o suspirar. Pra o que não foi, o imaginar. Para o que pode ser, o esperar. E para todo resto, o viver. Catando folha pro ninho ser o mais quentinho que der. E se não der, esperar o dia em que há de ser.
 
Ser o que somos na medida em que vivemos. Em que habitamos este chão, e sobretudo, nosso próprio chão. Habitar-se. Ajeitar-se. E para o frio de dentro, canções. Para a fome de dentro, talvez o cultivo das melhores intenções. E sonhos. E desejos de que tudo avança. E a gente se esbarra. Com novidades. Com surpresas. Com sustos, ou sortes, com tristezas e alguma cura, com saudades e o capricho dos acasos, com o choro, e com a calor do consolo, que vem de singulares menções.

Uma troca aqui, outra acolá, uma boa noticia, gente junto, gente que pensa junto, sintonias, inconscientes que se aproximam, instigam, te levam pra frente, ainda que frente seja o destino, o Universo, e todos os versos que ainda hão de rimar, outono com sono, folhas caídas com esperanças renascidas, entristecer com acontecer, idas com voltas, quedas com cascatas, e caminhos com beijos, e beijos com trechos de alguma canção que não foi feita pra ser esquecida.

A vida, essa menina sabida que tem por mania nos lembrar que só o que importa é achar, um dia por vez, um bom jeito de se ajeitar. Nas estações.