sexta-feira, 30 de julho de 2010

E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim.

-

Caio Fernando Abreu - Fragmentos de "Os dragões não conhecem o paraíso"

Estava por aí vendo qual era e não tinha saco pra fazer social. Tinha chegado ao ponto.O ponto vivo,o ponto quente. Primeiro gemeu depois procurou a boca e quase,quase chegou lá. Mas preferia servir um uísque,fumar outro cigarro,sem pressa alguma porque pedia mais e ela dava,generosa,e absolutamente não se espantava quando então invertiam-se as posições. Conseguia transformar os gemidos em gritos cada vez mais altos,fodam-se os vizinhos , depois cada vez mais baixos novamente, rosnados, grunhidos, até não passarem de soluços miudinhos...De outros jeitos,de todos os jeitos: quatro,cinco vezes. Em pé, no banheiro, tentando aplacar-se na água fria do chuveiro. Na sala de quatro nas almofadas de cetim, sobre o sofá , depois no chão. Na cozinha ,procurando engov e passando café, debruçada na pia. Em frente ao espelho de corpo inteiro do corredor, sem se chocar que espirrasse algo sobre os sapatos vermelhos dela que me abraçava entre as pernas, e não era mais Gilda, nem Adelina nem nada. Era um corpo sem nome,varado de prazer,coberto de marcas de dentes e unhas lanhada,lambuzada do leite sem dona das gatas das ruas. Completamente satisfeita.E vingada.